sábado, 24 de abril de 2010

No,a luta pela sobrevivencia

No lixo, a luta pela sobrevivência

Benira Maia
Do JC OnLine

Com os pés fincados sobre uma montanha de milhares de toneladas de lixo, mais de mil pessoas vivem, no Lixão da Muribeca, uma subumana realidade de sujeira, fedentina e pobreza. Nesta montanha que infla diariamente com caminhões trazendo do Recife e Jaboatão dos Guararapes o equivalente ao peso de mais de duas imagens do Cristo Redentor em lixo, miseráveis parecem selar a realidade de que, pés postos ali, fica difícil encontrar a saída para um outro trabalho que não o de andar, manusear e catar os detritos, pisando, sentando, comendo e sobrevivendo junto a urubus, moscas e garças. Mesmo afastado do Centro da capital pernambucana e localizado na periferia da vizinha Jaboatão, o lixão é, para eles, o caminho contra o desemprego.

"Estou aqui há 21 anos anos", conta Amaro Epifânio da Silva, um ex-cortador de cana que veio de Sirinhaém, a 56 km dali, em busca de melhor sorte que na agricultura. Aos 55 anos, ele diz haver criado os 22 filhos à custa do dinheiro arrecadado no lixão. O trabalho? catando dejetos que possam ser vendidos para posterior reaproveitamento. Com tanto tempo no local, ele não se encabula de dizer que, às vezes, come "pão seco" encontrado lá. Também não se aperreia se tem que lutar com urubu por comida ou se a ave defecar sobre ele. Semanalmente, costuma apurar em média R$ 80.

Seu Amaro é um dos quase 1.500 catadores que trabalham no Lixão da Muribeca depois que ficou sem emprego. Uma realidade que condiz com o desemprego que atinge 329 mil pessoas na Região Metropolitana - dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese). Dia e noite, eles se revezam no trabalho de descobrir objetos que possam ser aproveitados das 2.600 toneladas despejadas diariamente por 600 caminhões - o lixão acolhe todo o lixo domiciliar das cidades de Recife e Jaboatão. Colocam em grande sacos o material que conseguiram pegar e pesam nas balanças dos chamados "deposeiros" - atravessadores que levam o lixo para fábricas, por exemplo, de embalagem plástica e vidro. Gente que chega a ganhar semanalmente até mais de mil reais, pagando em média R$ 60 a cada catador.

O preço varia de acordo com o valor da matéria. E, neste mercado, o ferro é a mais valiosa, com o quilo chegando a ser vendido aos deposeiros por R$ 1,50 enquanto o plástico é comercializado por 80 centavos. Tanto que o catador Joel (não quis revelar o nome completo), de 45 anos, prefere levar para casa o aço que acha. Em casa, explica, vende mais caro que no lixão. "Aqui vendo por R$ 1,50. Lá, a R$ 2,50", revela.

CADA UM POR SI - O clima é de disputa no lixão, que tem 62 hectares - área 87 vezes maior do que o gramado do Maracanã. A cada despejo, os catadores praticamente emburacam lixo adentro à procura dos melhores dejetos. "As pessoas ali são competidoras", diagnostica o consultor em resíduos sólidos Bertrand Sampaio de Alencar, integrante do Comitê Gestor do Movimento Nacional dos Catadores e que, em 2003, fez uma pesquisa no local.

"É muita gente e ninguém ajuda", corrobora um jovem que se identifica apenas como Róbson, 18, e que há um ano engrossa a lista de catadores. Seguindo o trabalho do pai, que se encontra adoentado, ele diz que a parte mais difícil é "aprender a separar" os dejetos. À tarde na escola e pela manhã na Muribeca, costuma apurar na semana em torno de R$ 50. "O que tiver pela frente eu pego", afirma, usando surradas botas e luvas encontradas lá mesmo.

"O lixão é um problema social grande", atesta Adaulto Lins, com a autoridade de que quem convive de perto com a situação, como chefe de Divisão de Operação do local. "Aqui não há um problema principal; são vários problemas", afirma a psicóloga Socorro Silvério, responsável pela parte social do lixão. "É preciso tirar a documentação deles, fazer uma ação de saúde", enumera, contando que muitos sofrem com doença na pele. "Aparece coceira, sarna", conta o catador Sandro Ferreira, de 24 anos.

Na sua 11ª gravidez, Maria do Socorro sonha com "vida melhor" para os filhos

Sentada, descansando sobre um grande saco de lixo (mamona ou big bag, como é chamado), a catadora Maria do Socorro Conceição, 39, exibe a barriga de sete meses de gestação. É o seu 11º filho. Oriunda do trabalho na cana-de-açúcar na cidade de Bonito, a cerca de 110 km do lixão, ela está há três anos pegando resíduos ao lado do marido. Para dar conta da prole e da catação, costuma deixar a filha de 11 anos cuidando dos menores em casa. "A mais velha, de 16 anos, já casou", explica, com ar cansado. Quando não está grávida, costuma apanhar o suficiente para ganhar semanalmente R$ 80. Mas, com o barrigão, apura apenas R$ 40. A seus pés, ursos de pelúcia velhos e jogados ao lixo - brinquedos que ela não se sentiu tentada a levar pra casa. Por enquanto, apenas sonha com "uma vida melhor" para os filhos.

O sonho de Geceilda Delfina da Silva, 46, é uma casa própria. Sem marido, sem pai, mãe e fiho - como faz questão de frisar -, ela também veio do interior. Inicialmente, trabalhou de empregada doméstica na capital, mas, sem maiores referências para se empregar, acabou no lixão. De lá para cá, vão-se seis anos, sempre esperando juntar dinheiro para comprar um imóvel. Mora de aluguel em Jaboatão - a proprietária cobra R$ 80, mas, como ganha cerca de R$ 30 por semana, vai "pagando de dez". Na volta para casa, evita pegar ônibus: tem vergonha do mau cheiro que exala após um dia entre o lixo. "Uma vez peguei um geladinho e uma mulher disse: 'Que mau cheiro!'. Então, fiquei com vergonha", conta. Para se livrar do fedor, costuma demorar no banho, passando no corpo "sabão amarelo" seis vezes.

Um comentário:

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